Edvard Munch, Melancolia (1895) |
Assim como a discussão de quem
veio primeiro, o ovo ou a galinha, parece interminável a controvérsia da origem
da depressão. A neuropsicologia defende que a origem é bioquímica e interage
com o meio, enquanto a Psicologia Social afirma que tudo se inicia com o meio e
depois passa para o nível neurológico.
A Biologia por sua vez não está
preocupada com quem veio primeiro, apenas analisa a queda dos
neurotransmissores como a Serotonina e Endorfina, que dão a sensação de prazer.
Os neurotransmissores podem estimular ou inibir nossos neurônios; sendo que os
principais neurotransmissores são: Dopamina, Acetilcolina, Noradrenalina,
Serotonina e Endorfina.
Como a Genética pertence às
Ciências Biológicas, fica sobre a responsabilidade da Biologia em se preocupar
com as origens genéticas dessa patologia.
Apesar do Projeto Genoma já ter sido concluído em 2001, ainda existem
muitas dúvidas e incertezas quanto a interação gênica e quem determina o que e
onde. Alguns dos 30.000 genes que temos já foram desvendados junto com seus
caracteres. Um exemplo é o Autismo, que teve sua origem descoberta pela
genética, quando a bióloga Valerie Hu descobriu o gene Rora, que é responsável pela síntese da enzima aromatase que é pouco encontrada no cérebro de autistas.
Muitas das doenças psiquiátricas
como Esquizofrenia, Boderline e Transtorno Bipolar, quando feitas a genealogia,
apresentam reincidência na árvore genealógica, com a depressão não é diferente;
o que justifica a clássica pergunta dos psiquiatras: “Existe alguém na família
com depressão?” Porém apesar de em muitos casos ela apresentar evidencias de ser
genética, não se mapeou ainda o locus
gênico do possível gene responsável, ou então alguma interação entre vários
genes.
Sabe-se que distúrbios hormonais
como os causados durante a gravidez, menopausa ou por disfunção da tireoide também podem ser
responsáveis por quadros depressivos, que são facilmente resolvidos com
medicação apropriada e um bom endocrinologista.
A origem biológica da depressão
pode também estar associada com doenças neurológicas como: epilepsia, AVC,
demência vascular, hidrocefalia, TCE, esclerose múltipla, distrofia muscular,
tumor cerebral, doença de Alzheimer, Huntington e Parkinson. Confesso que é difícil definir se essas
doenças são capazes de mexer quimicamente com o cérebro a ponto de provocar a
depressão; ou se a notícia da doença, mais o tratamento delicado, junto com o
medo do sofrimento causado pelas doenças são responsáveis por alterações a
nível emocional.
Mesmo com o avanço da medicina,
tecnologia e outras ciências a grande máquina, chamada cérebro, ainda permanece
uma caixa de mistérios e controvérsias. A mesma curiosidade de Pandora, de
abrir e revirar a caixa, é a dos pesquisadores, que tentam encontrar as origens
e soluções do sofrimento psíquico e
neurológico.
Mas até aonde poderá chegar nossa
vã ciência? Ela será capaz de encontrar verdades, se não somos capazes se quer
de definir filosoficamente o que é uma verdade. A ciência enquanto processo
renova, mente e desmente teorias e assim analisa novos fatos de maneira
diferente para depois mentir e desmentir novamente. E assim ela evolui e nos
ajuda.
Mas afinal, será que o problema é
com nosso cérebro ou é uma questão de organização social? Até que ponto somos
capazes de aguentar pressões sociais, familiares e no trabalho diariamente? A
culpa será da Genética? Dos traumas? Do meio? Dos neurotransmissores? De outras
doenças neurológicas? Ou será simplesmente porque vivemos das sombras dentro da
caverna de Platão? Vivemos a sombra do consumismo, da aceitação social, status
entre outras futilidades.
Talvez a programação genética do
ser humano tenha sido para que sejamos felizes, livres, longe de correntes,
sombras e do fogo que as refletem nas frias paredes. Será que se vivêssemos do
lado de fora da caverna, aquecidos pelo Sol e em contado com a natureza que
fazemos questão de nos distanciarmos o máximo possível, essa doença existiria?
Texto feito por Luciana Dantas bióloga e estudante de psicologia.