sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Depressão: de quem é a culpa?

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Edvard Munch, Melancolia (1895)
 
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Assim como a discussão de quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, parece interminável a controvérsia da origem da depressão. A neuropsicologia defende que a origem é bioquímica e interage com o meio, enquanto a Psicologia Social afirma que tudo se inicia com o meio e depois passa para o nível neurológico.


A Biologia por sua vez não está preocupada com quem veio primeiro, apenas analisa a queda dos neurotransmissores como a Serotonina e Endorfina, que dão a sensação de prazer. Os neurotransmissores podem estimular ou inibir nossos neurônios; sendo que os principais neurotransmissores são: Dopamina, Acetilcolina, Noradrenalina, Serotonina e Endorfina.  


Como a Genética pertence às Ciências Biológicas, fica sobre a responsabilidade da Biologia em se preocupar com as origens genéticas dessa patologia.  Apesar do Projeto Genoma já ter sido concluído em 2001, ainda existem muitas dúvidas e incertezas quanto a interação gênica e quem determina o que e onde. Alguns dos 30.000 genes que temos já foram desvendados junto com seus caracteres. Um exemplo é o Autismo, que teve sua origem descoberta pela genética, quando a bióloga Valerie Hu descobriu o gene Rora, que é responsável pela síntese da enzima aromatase que é  pouco encontrada no cérebro de autistas.


Muitas das doenças psiquiátricas como Esquizofrenia, Boderline e Transtorno Bipolar, quando feitas a genealogia, apresentam reincidência na árvore genealógica, com a depressão não é diferente; o que justifica a clássica pergunta dos psiquiatras: “Existe alguém na família com depressão?” Porém apesar de em muitos casos ela apresentar evidencias de ser genética, não se mapeou ainda o locus gênico do possível gene responsável, ou então alguma interação entre vários genes.


Sabe-se que distúrbios hormonais como os causados durante a gravidez, menopausa  ou por disfunção da tireoide também podem ser responsáveis por quadros depressivos, que são facilmente resolvidos com medicação apropriada e um bom endocrinologista.


A origem biológica da depressão pode também estar associada com doenças neurológicas como: epilepsia, AVC, demência vascular, hidrocefalia, TCE, esclerose múltipla, distrofia muscular, tumor cerebral, doença de Alzheimer, Huntington e Parkinson.  Confesso que é difícil definir se essas doenças são capazes de mexer quimicamente com o cérebro a ponto de provocar a depressão; ou se a notícia da doença, mais o tratamento delicado, junto com o medo do sofrimento causado pelas doenças são responsáveis por alterações a nível emocional.


Mesmo com o avanço da medicina, tecnologia e outras ciências a grande máquina, chamada cérebro, ainda permanece uma caixa de mistérios e controvérsias. A mesma curiosidade de Pandora, de abrir e revirar a caixa, é a dos pesquisadores, que tentam encontrar as origens e soluções  do sofrimento psíquico e neurológico.


Mas até aonde poderá chegar nossa vã ciência? Ela será capaz de encontrar verdades, se não somos capazes se quer de definir filosoficamente o que é uma verdade. A ciência enquanto processo renova, mente e desmente teorias e assim analisa novos fatos de maneira diferente para depois mentir e desmentir novamente. E assim ela evolui e nos ajuda.


Mas afinal, será que o problema é com nosso cérebro ou é uma questão de organização social? Até que ponto somos capazes de aguentar pressões sociais, familiares e no trabalho diariamente? A culpa será da Genética? Dos traumas? Do meio? Dos neurotransmissores? De outras doenças neurológicas? Ou será simplesmente porque vivemos das sombras dentro da caverna de Platão? Vivemos a sombra do consumismo, da aceitação social, status entre outras futilidades.


Talvez a programação genética do ser humano tenha sido para que sejamos felizes, livres, longe de correntes, sombras e do fogo que as refletem nas frias paredes. Será que se vivêssemos do lado de fora da caverna, aquecidos pelo Sol e em contado com a natureza que fazemos questão de nos distanciarmos o máximo possível, essa doença existiria?

Texto feito por Luciana Dantas bióloga e estudante de psicologia. 

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